Renda Fixa

Itaú BBA projeta juros globais mais elevados e destaca renda fixa, com liquidez e bom retorno, em sua carta mensal

Para a casa de análises, antecipar o cenário continua sendo mais um exercício de fé do que ciência

Data de publicação:15/07/2022 às 05:00 - Atualizado 2 anos atrás
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As incertezas presentes no cenário econômico global seguem apontando para taxas de juros mais elevadas. Essa é a opinião de Lucas Queiroz, estrategista de renda fixa para pessoa física do Itaú BBA, o que faz o banco seguir mantendo uma postura mais conservadora, atento à renda fixa.

Para o Itaú BBA, o momento atual sugere paciência. “Antecipar o cenário neste momento continua sendo mais um exercício de fé do que ciência, motivo pelo qual seguimos conservadores nas alocações”, ressalta Queiroz, em carta divulgada aos investidores neste mês.

Para Itaú BBA, juros globais devem continuar subindo e renda fixa segue na atenção dos gestores - Foto: Envato

Em relação aos títulos pós-fixados, a casa segue otimista. “As difíceis discussões no lado fiscal e a pressão na moeda podem dificultar a missão do Banco Central de promover redução no nível da Selic em um futuro próximo, fazendo com que esta classe propicie liquidez para aguardar o desenrolar do cenário, e elevada rentabilidade, binômio que não pode deixar de ser desfrutado pelo investidor”.

Sobre os títulos prefixados, Queiroz aponta que a falta de clareza do cenário impede uma alocação mais robusta nesse tipo de título de renda fixa.

“Preferimos posições pequenas e concentradas na parte curta da curva de juros. Entendemos que essa é a forma mais segura de obter retornos acima dos pós-fixados em um cenário de arrefecimento da inflação doméstica”.

Lucas Queiroz, do Itaú BBA

Já sobre os títulos IPCA+, os ativos ficaram comprometidos após as medidas de redução de impostos implementada pelo governo.

“Continuamos a entender que o vértice de 2026 é o melhor lugar para estar na curva de NTN-Bs, oferecendo distanciamento suficiente para não ter dinâmica integralmente indexada à trajetória do carrego de inflação e prazo não tão longo, minimizando riscos em um cenário como o atual”, ressalta.

Cenário sem resposta

Na carta aos investidores, o especialista aponta três aspectos que ainda se mantêm sem uma resposta definida e que podem ditar o movimento de alta nos juros - o que justifica a postura do banco em olhar com mais carinho para a renda fixa - como o tamanho da recessão dos Estados Unidos, o comportamento das commodities e os riscos fiscais locais.

Juros americanos

Para Queiroz, o nível até onde o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) deverá levar a taxa de juros dependerá, em primeira instância, da trajetória da inflação.

“É a taxa real de juros que importa neste caso, visto que é esse número que incentiva ou não os empresários e famílias a investirem/consumirem e que, por consequência, promove aquecimento e desaquecimento da economia pelo lado da demanda”, analisa.

Em sua última reunião, a autoridade monetária apontou que espera um nível de juros para 2023 em torno de 3,9% ao ano e uma inflação – medida pelo índice PCE – de 2,6%, o que, de acordo com Queiroz, no documento, indica que a taxa real esperada é de 1,2%.

O especialista ponta que, entretanto, caso os preços continuem subindo haveria necessidade de ser revisada para cima também a trajetória dos juros.

“Foi justamente a leitura da inflação ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) referente a maio, acima das expectativas (1,0% versus 0,7%) e acumulando 8,6% em 12 meses que promoveu a reprecificação nos juros”, ressalta.

Vale lembrar que nesta semana, após a publicação da carta do Itaú BBA, o Departamento do Trabalho americano divulgou que o CPI de junho avançou 1,3% ante maio e atingiu 9,1%, maior patamar na comparação anual desde 1981.

Recessão

Queiroz, do Itaú BBA, destaca que o cenário de maior risco de recessão ganhou terreno durante o mês, após uma sequência clara de eventos, que iniciou com a surpresa do dado de inflação de maio.

“Por outro lado, a queda no índice de sentimento do consumidor serviu para reforçar a ideia de enfraquecimento na visão de um consumo pujante, percepção que seria corroborada mais tarde pela revisão no dado do PIB referente ao 1º trimestre, que mostrou crescimento no consumo pessoal em patamar bem mais modesto do que sugeriam as prévias”.

Queiroz, do Itaú BBA

Desta maneira, a surpresa com a aceleração na elevação da taxa de juros nos EUA (+0,75 p.p.) deu então o tom mais negativo para a atividade. Queiroz enfatiza que o mercado passou a projetar menos juros para 2023, sugerindo que logo à frente o Fed terá de rever as atuais decisões.

O especialista reforça que os mercados estão sempre precificando cenários futuros e que “se a desaceleração já antecipada não tiver continuidade após o final de 2022, é possível que os mercados estejam agora passando pelo seu pior momento”.

Petróleo

Outro ponto mencionado pelo estrategista na carta aos investidores de julho foi o preço do petróleo, que também influencia a inflação. Por conta das questões do lado da oferta, como menor capacidade de refino global, guerra na Ucrânia e, do lado da demanda, a potencial desaceleração da economia global, os preços da commodity devem seguir voláteis.

“Historicamente o petróleo apresentou relação inversa à dinâmica do dólar, de modo que analisávamos a trajetória esperada para a commodity e tínhamos relativa confiança nas inferências sobre o futuro da moeda americana. Desde a pandemia, entretanto, observamos uma perda na relação observada anteriormente, com o dólar passando a se valorizar nos períodos em que o petróleo encarece”, enfatiza.

Lucas Queiroz

E o Brasil pode ter implicações negativas nesse cenário, segundo o estrategista, na carta. “O avanço no mercado de petróleo, desdobramento geralmente positivo para a atividade econômica brasileira, se torna potencialmente também inflacionário pelo canal do câmbio, criando dificuldades nos demais setores da economia e nas implicações sobre o preço dos ativos”.

Risco fiscal

Deslocando a análise para o cenário interno, o risco fiscal é um dos aspectos que merece atenção, na visão de Queiroz. Segundo ele, a aceleração no nível de preços de setores como transportes e alimentos colocou foco no tema da desigualdade e “gerou pressões no governo por mais gastos sociais”.

Após a aprovação da redução da alíquota do ICMS para 17% em itens como energia e combustíveis, o governo aprovou, também a PEC “Kamikaze”, na quarta-feira, 14, que oferece uma série de benefícios sociais, como a elevação do Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600 por mês e concede uma “bolsa caminhoneiro” de R$ 1 mil mensais. O custo das medidas para o caixa do País é de R$ 41,25 bilhões, que estão fora do teto de gastos.

A grande preocupação do mercado, segundo o estrategista do Itaú BBA, é com o descompasso no orçamento do setor público, “uma vez que não é esperada uma recomposição de receitas na mesma magnitude”.

“As taxas de juros reais têm subido e deverão seguir em patamar elevado. Dá última vez que isso ocorreu, o alívio aconteceu quando o governo aprovou a política do teto de gastos, medida que impunha regras ao aumento de gastos”, enfatizou.

Entretanto, Queiroz afirma que, na visão de mercado, os resultados desses descontos em termos de queda na inflação devem ser sentidos apenas no curto prazo.

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