Renda Variável

O que esperar da Bolsa após valorização de 6,3% em oito pregões?

Tendência de alta pode ser sustentada por retomada da economia e desempenho das commodities

Data de publicação:08/06/2021 às 07:54 - Atualizado 3 anos atrás
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Os recordes sucessivos em número de pontos, a sequência de oito pregões em alta, uma valorização superior a 6% em maio, sem dúvida, demonstram um vigor da Bolsa de Valores. Mas seriam esses fatores um indicativo de um novo rali no mercado de ações? Para os analistas, há fortes e convincentes motivos para que o mercado experimente novas altas e continue em ritmo frenético.

A perspectiva de retomada da economia no cenário internacional, em países que avançaram bem no processo de vacinação, combinada com a surpresa positiva do crescimento do PIB no primeiro trimestre, mostrando que a economia por aqui é mais fortes do que se imagina, parece terem criado ambiente de otimismo entre os investidores. A tentativa é de se antecipar às novas altas, com posicionamentos aos atuais níveis de preços, muitos convidativos.

Bolsa pode ser sustentada por um bom tempo pela boa performance das commodities

É evidente que movimentos de realização de lucros podem acontecer no meio do caminho, provocando recuos, mas na tendência principal para o Ibovespa é de alta, ao que tudo indica. E deve chegar ao fim do ano entre 145 e 150 mil pontos, de acordo com projeções de boa parte mercado.

“Depois desse resultado do PIB, que pegou o mercado de surpresa, esperamos crescimento de 5% da economia. Devemos chegar ao fim do ano acima dos níveis pré-pandemia", afirma o estrategista de renda variável da Ouro Preto Investimentos Bruno Komura. "O único fator que poderia frustrar essa expectativa é a vacinação não acelerar e não ocorrer a tão esperada abertura no fim de 2021, mas não é a visão predominante”.

A reabertura dos negócios deve incrementar resultados de setores que ainda não se beneficiaram da recuperação da renda nacional nos três primeiros meses deste ano, como o varejo, o turismo e os shoppings, prevê o estrategista da RB Investimentos Gustavo Cruz.  

“Há uma grande oportunidade no varejo. O impacto da crise sobre empresas de menor porte e o custo de capital relativamente baixo da economia criou um ambiente propício a aquisições. Arezzo e Renner devem efetuar movimentos neste sentido até o fim do ano”, diz ele.  

Bom humor que vem de fora

O novo ciclo de valorização das commodities no mercado internacional começou a ter impactos nos resultados das exportações brasileiras e desencadeou a recuperação da economia doméstica, destaca o head de Renda Variável da Veedha Investimentos, Rodrigo Moliterno.  

“As commodities têm forte presença na bolsa de valores, onde as empresas exportadoras de minério de ferro, petróleo, aço, proteína animal, papel e celulose, dentre outras, têm grande participação no Ibovespa", afirma Moliterno. "A reabertura e retomada da economia global, refletida no aumento da demanda por estes produtos, teve reflexos positivos na atividade doméstica”

Para Komura a recuperação da economia da China, que registrou crescimento de 18,3% do PIB no primeiro trimestre de 2021, deve sustentar a demanda por commodities. “As empresas que atuam no setor de matérias-primas vão ter aumento das margens e dos múltiplos e isso vai provocar elevação dos preços dos papéis.”

“A bolsa brasileira deve continuar se beneficiando do rali das commodities, que devem seguir acima dos preços médios históricos no médio prazo”, afirma Paula Zogbi, analista da Rico Investimentos. Principalmente porque haveria uma situação desafiadora para a oferta, após a pandemia, e uma demanda crescente. Ela lembra que 36% da composição da B3 é de commodities e ações de muitas empresas, como as da Vale, não estão alinhadas ainda com as altas recentes da bolsa. 

Empresas que sustentaram a bolsa

Moliterno lembra também que, enquanto o panorama macro do País apresentava uma série de incertezas, políticas e econômicas, o quadro micro, representado pelas empresas, dava sinais de que vinha muito bem. “Cerca de 60% das empresas apresentaram resultados acima das expectativas em seus balanços trimestrais”, aponta. “A economia aqui estava atrasada em relação a outros pares, mas foi influenciada positivamente pela melhora do cenário macro internacional.”

O executivo da Veedha Investimentos diz ainda que a bolsa de valores foi beneficiada pela volta da inflação. “A ideia geral é que a inflação destrói valor, mas a ação é um ativo real, como imóvel, ouro, dólar.” E, como tal, os investidores compraram ações para se proteger também da inflação. “A bolsa antecipa a inflação e a renda fixa reage a ela, com alta de juros.”

A valorização das commodities contribuiu para a melhora das economias periféricas e, no âmbito delas, migra seus efeitos benéficos para outros setores, no caso brasileiro para os setores de construção e varejo, principalmente, aponta Moliterno. “E assim se cria também um círculo virtuoso que se irradia pela economia e acaba puxando a bolsa.”

É apostando na continuidade dessa cadeia retroalimentadora, a partir da valorização das commodities, que ele acredita que o Ibovespa tem possibilidade de chegar a níveis muito mais elevados até o fim de 2021.

Plano Biden deve favorecer emergentes

O desânimo com o risco de aumento da inflação que havia tomado investidores nas últimas semanas cedeu lugar às expectativas pelo início do plano de investimentos trilionários em infraestrutura nos Estados Unidos. 

“Os investimentos públicos do governo americano geram um aumento de liquidez na economia e, consequentemente, do apetite por aplicações de risco mais elevado em mercados emergentes. Isso, além de impulsionar a bolsa, pode manter a tendência de queda do dólar por mais tempo”, avalia Komura. 

Bolsa entre 145 e 150 mil pontos

A estimativa majoritária de analistas e especialistas é que a bolsa feche o ano no patamar de 145 mil a 150 mil pontos. “Mais concretamente, a 145 mil pontos”, acredita, o que daria uma alta em torno de 13% até lá.

Paula Zogbi, da Rico investimentos, prevê que a bolsa continue a se beneficiar do ciclo das commodities e do fato de estar “barata” em relação a outras economias e aos indicadores fundamentalistas. “O indicador P/L (preço das ações sobre lucro esperado para as empresas) do Ibovespa está abaixo da média dos últimos dez anos.” A expectativa do time de análise da Rico é de Ibovespa em 145 mil pontos no fim de 2021. “Graficamente, o Ibovespa projeta 150 mil pontos”, reforça Filipe Fradinho, analista técnico da Clear Corretora.

A expectativa é que o ciclo de commodities dure anos, o que asseguraria desempenho positivo da economia, que ensaia sair da crise da pandemia, e para as bolsas durante bom tempo. Não significa, contudo, que o caminho esteja livre. Há riscos também pela frente.

Moliterno aponta dois: uma onda muito forte a pandemia de Covid-19 que volte a travar a economia global, com queda das commodities, e internamente a deterioração da crise fiscal, se o governo vier a adotar medidas populistas para tentar recuperar a popularidade baixa. /Tom Morooka e Gustavo Cortês

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