Economia

Banco Central eleva Selic para 5,25%, e sinaliza novo ajuste de 1 ponto em setembro

Avanço da inflação levou o Copom a forçar a mão no ajuste do juro básico da economia

Data de publicação:04/08/2021 às 06:47 - Atualizado 3 anos atrás
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O Comitê de Política Monetária elevou a Selic em 1 ponto porcentual para 5,25% ao ano, em terceira alta dos juros este ano. É nesse nível que a taxa deve permanecer até o dia 22 de setembro, quando os diretores do Banco Central voltam a se reunir para definir o rumo dos juros no País.

Em comunicado expedido logo após o término da reunião, o colegiado do BC adotou postura mais dura e firme ao afirmar que está prevista elevação da mesma magnitude em sua próxima reunião.

Juros voltam a subir por conta de inflação persistente e acima das expectativas

Ainda que tenha sinalizado, em sua última reunião em junho, que esse ajuste seria de 0,75 ponto porcentual, o que elevaria a Selic para 5,00% ao ano, o Banco Central mostrou que não está brincando em serviço diante de perspectiva de avanço da inflação, acima do previsto e desejado.

Por isso, o BC forçou a mão e decidiu por uma elevação mais acentuada, de 1 ponto porcentual, do juro básico da economia.

Esse é o terceiro ajuste feito na Selic este ano, o primeiro foi em março, quando a taxa passou de 2,00% para 2,75%. Altas de mesma dosagem foram aplicadas à taxas nas reuniões de maio e junho do Copom, trazendo o juro para o nível de 4,25% até hoje.

O grande desafio dos pilotos da política monetária no País está em encontrar uma taxa de juro que possa conter o ímpeto da inflação e ao mesmo tempo não seja uma trava do crescimento econômico.

Tudo indica que, nesse momento, o entendimento das autoridades monetárias é o de que a prioridade tem de ser frear a alta de preços, já que a economia vem apresentando sinais de alguma recuperação.

As justificativas do Copom

"A estratégia de ser mais tempestivo no ajuste da política monetária é a mais apropriada para garantir a ancoragem das expectativas de inflação. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego", diz o comunicado.

O Copom ressalta que os indicadores recentes continuam mostrando evolução positiva da atividade econômica, portanto, sem a necessidade de mudança relevante para os próximos meses, com cenário "que contempla recuperação robusta do crescimento econômico ao longo do segundo semestre".

Já em relação à inflação, as autoridades destacam que os números mostram composição mais desfavorável, no setor de serviços, e continuidade de pressão sobre bens industriais e novos focos de alta com aumento da energia elétrica e preços dos alimentos, decorrentes de condições climáticas adversas.

Em conjunto, reforça o comunicado, esses fatores acarretam revisão significativa das projeções de curto prazo da inflação. Ao mesmo tempo uma acomodação nos preços das commodities poderia ter reflexo positivo sobre a inflação no País.

Em análise da conjuntura externa, os diretores chamam a atenção para a evolução da variante Delta da Covid-19, que adiciona risco à recuperação da economia global.

O Comitê avalia que há risco relevante de aumento da inflação nas economias centrais, mas que "o ambiente para países emergentes segue favorável com os estímulos monetários de longa duração, os programas fiscais e a reabertura das principais economias".

Os diretores ainda ponderam que apesar da melhora recente nos indicadores da dívida pública, "o risco fiscal elevado segue criando uma assimetria altista no balanço de riscos, ou seja, com trajetórias para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária.

O colegiado reitera que perseverar no processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para permitir a recuperação sustentável da economia.

Por fim, as autoridades monetárias ressaltam que questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia.

Selic corre abaixo da inflação

Para ter ideia de como os juros estão correndo muito abaixo da inflação, basta dizer que a Selic acumulada em 12 meses está em 2,43%, enquanto o IPCA no mesmo período está zanzando entre 8,5 e 8,7%. Juros baixos tendem a estimular o consumo e dar combustível para a inflação.

Em um recorte dos números neste ano, o equilíbrio entre as duas variáveis econômicas estaria em andamento: no semestre, o IPCA acumulou variação de 3,77% e a taxa Selic correndo desde junho em 4,25%, e com variação acumulada de janeiro a junho de 1,62%.

A expectativa do mercado é que ocorra uma convergência no segundo semestre desses dois indicadores, fechando o ano quase empatados. A inflação projetada pelo IPCA para 2021 pelo mercado financeiro no último boletim Focus está em 6,79%, pouco abaixo da Selic de 7% ao ano estimada para o fim deste ano.

Sobre o autor
Regina PitosciaEditora do Portal Mais Retorno.