Economia

Copom: piora na inflação eleva debate sobre alta de 1% na taxa Selic

Decisão sobre meta de juros para os próximos 45 dias acontece hoje, no fim do dia; BC vem sinalizando para alta de 0,75%

Data de publicação:16/06/2021 às 05:00 - Atualizado 3 anos atrás
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Em cima da hora, na véspera da decisão do Banco Central sobre a taxa básica de juros, a Selic, ganhou força no mercado financeiro a expectativa de que o Comitê de Política Monetária (Copom) seja mais ousado nesta quarta-feira, 16, e aumente mais que o previsto a taxa Selic. A alta pode ser de um ponto porcentual elevando a taxa de 3,5% para 4,5% ao ano.

Indicação dessa possibilidade ficou espelhada no movimento dos juros futuros nesta terça-feira. As taxas de juro de contratos de vencimento mais curto subiram e as de prazo mais longo recuaram. “O mercado está dividido entre uma alta de 0,75 ponto porcentual, como já sinalizado pelo Banco Central, e uma elevação de 1 ponto porcentual”, comenta Davi Lelis, especialista e sócio da Valor Investimentos. Deixou de ser uma unanimidade a aposta em uma elevação de 0,75 ponto porcentual.

Juros curtos subiram mais refletindo expectativa de alta mais expressiva nesta reunião do Copom

A alta dos juros curtos expressa o sentimento do mercado de que a Selic pode subir mais forte nesta quarta, o que exige um ajuste das taxas de juro de contratos de vencimentos mais curtos a essa nova Selic, e o recuo dos juros de contratos mais longos que, com a Selic mais elevada agora, o juro básico e a inflação estarão rodando mais baixos anos à frente.

Essa perspectiva estressou os juros de contratos de vencimento mais curtos, afirma Lelis. Com efeito, os juros de contratos futuros com vencimento no fim deste ano subiram 1,63%; os com vencimento em 2022, avançaram 1,79%, e os com vencimento em 2023 subiram 0,14%.

Na contramão de alta dos juros de vencimentos mais curtos, os embutidos nos contratos para liquidação em 2025 recuaram 1%; em 2027, caíram 1,5%; em 2029, recuaram 1,35%, e em 2031, caíram 1,64%.

Daniel Miraglia, economista-chefe da Integral Group, afirma que a movimentação mais recente dos juros futuros já indica alguma probabilidade de alta maior e um aumento de 1 ponto porcentual na Selic não seria mais uma grande surpresa para os mercados.

A economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, entende também que, embora seja uma aposta minoritária e o aumento de 0,75 ponto já tenha sido contratado pelo Banco Central, não está afastada a hipótese de que a Selic venha subir mais que o previsto, como desdobramento de uma inflação mais alta e em elevação. “Assim como houve uma surpresa no primeiro ajuste do atual ciclo de alta, em março, quando a expectativa do mercado era por uma elevação de 0,50 ponto porcentual e veio uma alta de 0,75 ponto”, lembra a economista.

Miraglia afirma que, além de uma possível alta da Selic superior à estimada, o mercado já incorporou bastante nos juros uma eventual retirada da frase “ajuste parcial da política monetária” do comunicado que o Copom divulgará no fim do encontro do colegiado. Em lugar disso, afirma o economista, a expectativa é que o Banco Central passe a sinalizar um ajuste na dosagem necessário na Selic para trazer a expectativa de inflação de 2022 de volta ao centro da meta.

O IPCA para 2021 projetado por analistas e economistas do mercado no último boletim Focus está em 5,82% - acima do teto de tolerância de 5,25% - e para 2022 está em 3,78% - acima da meta central de 3,50%.

O economista-chefe da Acrefi, Nicola Tingas, afirma que a expectativa de alta maior da Selic ganhou força porque o mercado sente a necessidade de um ajuste mais rápido na taxa nominal para um patamar que seja adequado para reduzir a inflação superior à meta esperada para o ano que vem.

Inflação mais alta permite prever Selic mais alta

Tingas aponta numerosos fatores de pressão que podem colocar em risco a ancoragem das expectativas de inflação dentro da meta prevista para 2022. “O aumento da energia elétrica e outras questões ligadas à crise hídrica e o repasse de custos pesados da indústria e serviços à medida que a vacinação avançar acendem um estado de alerta no mercado que faz o Banco Central acelerar o ajuste na Selic.”

A inflação em alta preocupa e o Banco Central tem à mão o instrumento para detê-la, o manejo da taxa Selic, mas os especialistas dizem que a decisão do Copom nesta quarta será influenciada também pelos sinais que vierem da reunião do Fed (Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos), evento que ocorrerá antes do encontro do Copom.

Segundo analistas e especialistas, a aposta em aumento maior da Selic teria refletido a preocupação de parte do mercado de que o Fed venha a sinalizar uma redução gradual da compra de ativos, no âmbito do programa de estímulos monetários adotado na crise da pandemia, ou uma elevação de juros antes de 2024.

Decisões que podem tornar os juros mais atraentes nos Estados Unidos e atrair capitais ancorados em outras partes do mundo, com efeitos negativos sobre os mercados globais de bolsa de valores e o dólar, incluído o Brasil.

Sobre o autor
Tom MorookaColaborador do Portal Mais Retorno.