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Economia

As Commodities e a Bolsa Brasileira

O Brasil é uma referência mundial na exportação da commodities, sendo inclusive considerado por alguns como um dos “celeiros do mundo”. Já escutou algo do tipo…

Data de publicação:30/06/2020 às 09:00 -
Atualizado 3 anos atrás
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O Brasil é uma referência mundial na exportação da commodities, sendo inclusive considerado por alguns como um dos “celeiros do mundo”. Já escutou algo do tipo certo?

A temperatura, a qualidade do solo, a disponibilidade de terras cultiváveis e exploráveis, a longa experiência de manejo e investimento robusto no desenvolvimento de tecnologia faz com que o setor agropecuário e extrativo apresente potencial competitivo com o mundo que não é visto em outros setores da nossa economia.

Sério, a economia brasileira deve muito para esses segmentos, que apresentam um ganho de produtividade e eficiência sem igual.

Uma das consequências disso é termos empresas desses segmentos como as maiores referências na nossa economia e, principalmente, na nossa Bolsa.

Dessa forma, vale a pena olharmos como os ciclos das commodities impactaram nesse e nos últimos anos, mostrando como a exposição da nossa bolsa é bem elevada em relação aos ânimos do mercado mundial.

Bolsa não é PIB

Talvez você já tenha escutado ou lido essa frase e apesar da bolsa antecipar flutuações da economia, de fato ela não representa o nosso PIB.

Enquanto o setor agropecuário inteiro e da indústria extrativa brasileira representam menos de 8% do nosso PIB nacional (de 2019), por outro lado, se somarmos apenas VALE, Petrobras, JBS e Suzano (forte representantes desses segmentos) já temos 20,1% da nossa bolsa.

Um quinto da bolsa em apenas 4 empresas ligadas a commodities, exportação e mercados internacionais.

Dessa forma o ciclo da nossa bolsa naturalmente tem um peso relevante da evolução do preço das principais commodities, que por sua vez, dependem bastante da demanda e dos acontecimentos nas principais economias globais.

Existem até estudos publicados, como o “A relação entre o mercado de ações e as variáveis macroeconômicas: uma análise econométrica para o Brasil” que mostram justamente uma relação muito maior do Ibovespa com fatores externos, aí sumarizados pela taxa de câmbio, do que com o próprio PIB brasileiro.

E aí que entram as commodities.

Os ciclos das commodities

O preço das commodities está em tendência estruturalmente de queda desde a virada do século XX. Isso não é de agora, apesar de vários ciclos menores de alguns anos que mostram alta.

Sempre em que o preço agregado delas subiu nesse período mais longo, algum fato muito importante havia acontecido, com destaque óbvio para as guerras, assim como fez o pessoal da The Economist.

Economia Nova: Preços de commodities - tendência secular

Os padrões cíclicos costumam ter explicação em fundamentos, sendo que obviamente os ciclos de alta representam ou uma aceleração da demanda ou forte quebra da oferta.

O aumento dos preços justamente incentiva os produtores a investirem e produzirem ainda mais, aumentando a capacidade de produção. Naturalmente durante esse processo ou a demanda ou a oferta se normaliza em relação ao excesso ou sua falta, fazendo com que os preços recuem.

Dessa forma, temos um balanço mais equilibrado entre oferta e demanda.

Encurtando um pouco o prazo

Mas o que importa para nós aqui são os ciclos mais recentes. Para avaliar isso, podemos olhar a evolução de um famoso índice que reflete de forma agregada o preço das commodities.

É quase uma cesta de produtos: o CRB (Core Commodity CRB).

Ele representa 19 commodities, sendo 39% ligados à energia, 41% agrícolas, 7% de metais preciosos e 13% de metais industriais. Bem completo, não?

Pois é, não há outro “agregadão” de preços internacionais que representa tanto o mercado brasileiro. Os humores aqui acompanham de perto a evolução desses números, principalmente as expectativas das direções futuras para esses índices.

O fato é: nem todas as crises brasileiras foram resultadas de um ciclo de baixa nas commodities, mas todos os ciclos de baixa das commodities trouxeram complicações para nossa economia e bolsa, como você pode ver abaixo.

O melhor momento o foi justamente entre 2002 e 2011 (mesmo com o tropeço ali da crise financeira de 2008), em que o Brasil ficou um dos seus períodos mais longos sem entrar em recessão séria.

Praticamente 10 anos e isso não é pouco considerando nosso histórico. E isso tudo graças a forte demanda chinesa por produtos brasileiros.

A Bolsa também surfou junto esse momento quase que acompanhando linearmente o aumento dos preços das commodities. Isso fica ainda mais evidente quando olhamos os seus números em dólares (assim como o mundo todo faz quando olha para cá).

Foi uma época de ouro, mas que tão logo o ciclo se encerrou em 2011, entramos numa trajetória franca de desvalorização da nossa moeda, situação econômica mais complicada e que somada aos erros de política econômica nos levaram para nossa maior crise entre 2014-2016.

Isso explica o nosso descolamento entre 2014 e 2016, período em que nossa bolsa recuou muito mais do que o próprio índice de commodities.

Outro ponto que você deve ter em mente é justamente o efeito “espelho” que o preço das commodities tem em nossa divisa.

Parece até forçado, mas é isso mesmo. Subiu preço das commodities, o Real se aprecia, caiu preço das commodities, ele se deprecia.

Para quem tem alguma parcela de moedas na carteira deveria buscar saber um pouco mais sobre o comportamento e as expectativas para o mercado das commodities.

Canais de transmissão dos efeitos dos preços das commodities

A variação dos preços das commodities atuam na economia brasileira de várias formas, portanto vou elencar 4 aqui, mas a lista não é exaustiva.

  1. Efeito direto em ativos das empresas que trabalham com commodities, seja vendendo para o mercado doméstico ou internacional, ou então como insumos em alguma parte da sua cadeia. O preço das ações tende a responder muito rápido esses movimentos;
  2. Valorização ou desvalorização do Real frente ao dólar. Esse efeito é clássico, justamente pela menor ou maior entrada esperada de recursos na nossa economia por conta do comércio dessas mercadorias. Pode impactar a sua carteira diretamente, caso esteja exposto ao dólar.
  3. Essa mudança na taxa de câmbio pode, em alguma instância, impactar a nossa expectativa de inflação (dependendo da direção, é claro). Você já pode imaginar que isso, por sua vez, tem impactos diretos nas decisões de política monetária e nos ativos influenciados pelo vai e vem dos juros. Nós já vimos isso com o preço da carne, quando ficou muito mais rentável exportar do que buscar o mercado doméstico, o que gerou forte pressão aqui na nossa inflação de alimentos.
  4. Pouca gente lembra, mas há um certo componente fiscal na movimentação dos preços das commodities. Por exemplo, entre 2002 e 2011 o aumento de preços das commodities foram acompanhados por aumentos na receita fiscal cíclica (desde receita com os tributos na área de exportação e importação, até mesmo o aumento no pagamento de royalties e a arrecadação proveniente dessa tributação, bem como uma parcela gorda de proventos). Melhora fiscal reduz risco, reduz inflação, reduz juro e melhora cenário para ativos mais arriscados como a própria bolsa de valores.

O que o futuro nos guarda?

Incerteza, muita incerteza.

Bom, em 2020 estamos diante de uma das mais intensas crises mundiais por conta do COVID-19 e o preço das commodities respondeu rapidamente a essa nova realidade.

A queda na demanda esperada atingiu praticamente de forma generalizada, ainda que com intensidades bastante diferentes: o petróleo, por exemplo, sofreu expressivamente mais do que o minério de ferro.

A preocupação em relação à economia chinesa é o principal ponto para as mercadorias que as nossas empresas negociam.

Felizmente os preços já recuperaram boa parte das expressivas quedas que assistimos em março e abril, mas ainda assim, as expectativas para o fim de 2020 e de 2021 não são exatamente as melhores.

Segundo o levantamento do FMI (Fundo Monetário Internacional), o preço da soja, do minério de ferro e do petróleo (que dominam não só nossa pauta exportadora, mas tem peso importante na nossa bolsa) não devem retornar ao preço do final de 2019 nesse e nem no próximo ano.

Segundo as estimativas da instituição, o preço do petróleo no final de 2021 ainda deve estar abaixo em cerca de 38% em relação ao pico de 2019; já o minério de ferro deve permanecer com preço abaixo em 23%.

A notícia mais positiva vem no caso da soja, quase que empatando com 2019 (apenas 2% abaixo).

Apesar de não termos empresas negociadas em bolsa para o caso da soja, ela tem impacto fundamental nas chamadas contas externas brasileira e trazem bastantes recursos (isso, o bom e velho dólar), o que aprecia a nossa moeda e também tende a impactar a bolsa.

Mas nem tudo é tão ruim quanto parece: Outros players do mercado de commodities mundo afora também estão passando por dificuldades e, inclusive, temos relatos das nossas empresas mais competitivas nesse segmento (o setor de proteína animal, por exemplo), se beneficiando da fragilidade dos concorrentes. Sempre existem alguns vencedores nas crises.

Conclusão

O cenário para as commodities ficou mais desafiador daqui para frente, sobretudo com uma forte crise mundial, seguida de um menor crescimento de economias importantes.

O ritmo com que o preço dessas mercadorias vai sair da cratera deixada pelo COVID vai ser fator fundamental para traçarmos o cenário para diversas frentes da economia brasileira.

O segundo semestre de 2020 será mais do que nunca marcado pelo acompanhamento da oferta e demanda das commodities e que deve ter impacto decisivo no novo patamar da nossa bolsa e da nossa taxa de câmbio.

Sobre o autor
Arthur Lula Mota
Economista, já atuou no mercado financeiro e em departamento econômico, com elaboração de cenários macroeconômicos e estudos setoriais. Atualmente é Mestrando em Economia pela Universidade de São Paulo (USP) e dono de um dos maiores sites independentes de economia no Brasil – o Terraço Econômico.

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