Finanças Pessoais

Por que as mulheres ainda são minoria no mundo dos investimentos?

O número de mulheres que fazem investimentos vem crescendo, mas ainda está muito abaixo quando comparado ao total de homens investidores

Data de publicação:27/08/2021 às 07:00 - Atualizado 3 anos atrás
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Numa pesquisa rápida no Google com a pergunta “por que as mulheres não podem”, algumas das frases mais procuradas que aparecem na busca estão “ser padres, ser marinheiros ou usar um shampoo de homem para queda de cabelos”. Na primeira página de pesquisas, entretanto, não há menção a questão "por que as mulheres não podem investir". Reflexo de alguns avanços no mundo dos investimentos, mas ainda há muito a ser feito.

Na última quinta-feira, 26, foi celebrado o Dia Internacional da Igualdade da Mulher. Uma data como essa leva a diferentes reflexões, não somente sobre a importância do respeito e apoio aos direitos da mulher, mas também sobre o papel da mulher no cenário financeiro do país, e vice-versa - ou seja, o papel dos investimentos na vida da brasileira.

Número de mulheres investidoras na B3 chegou a um milhão em 2021

Mulheres têm a sensação de não saber o suficiente sobre investimentos

No Brasil, apesar de termos atingido a marca histórica de 1 milhão de investidoras na Bolsa em 2021, as mulheres representam 30% do total de CPFs registrados na B3. No Tesouro Direto, a proporção é bastante similar. Em um país onde mulheres representam 51,5% do total da população - e no qual quase metade das famílias são chefiadas por mulheres - o número ainda parece baixo.

Diversos estudos tentam entender o porquê dessa realidade, que não é apenas brasileira. A tendência é observada em todo canto do planeta, inclusive em países desenvolvidos, onde o mundo dos investimentos tende a ser muito mais maduro e presente no dia a dia das pessoas.

Dentre os motivos, as pesquisas apontam salários e benefícios de aposentadoria menores para as mulheres do que para os homens. Além disso, estudiosos também observam um menor nível de educação financeira, acesso à informação e capacidade de utilizá-la e, até mesmo, variáveis de interação social que afligem parte da população feminina, incluindo sintomas de depressão.

Mas, há outra questão que também aparece com frequência: a "síndrome do PhD dançarino", como nomeou Rachel Sá, chefe de economia da Rico.

"Sabe aquela sensação de que você precisaria saber dançar muito bem para poder participar de uma competição de dança entre amigos? Agora substitua a competição de dança por dar o primeiro passo no mundo dos investimentos, e saber dançar muito bem por ter um PhD em economia, finanças ou correlatos", explica a especialista.

De acordo com uma pesquisa recente da gestora Franklin Templeton, é essa "falta de conhecimento" que 41% das mulheres no mundo sentem em relação aos investimentos, o que, muitas vezes, as impede de investir. A porcentagem cai para 23% para os homens, ainda segundo o estudo.

As mulheres têm um perfil de investidor diferente dos homens?

Para além dos motivos por trás da menor participação feminina no mundo dos investimentos, há também um importante "lugar comum" frequentemente atribuído às investidoras: mulheres possuem maior aversão ao risco do que homens. Ou seja, mulheres teriam mais medo de perder dinheiro com o mercado financeiro, e por isso, tomariam menos riscos na hora de investir.

Essa premissa acaba influenciando a própria decisão inicial de mulheres sobre investir, além de criar a noção de que os retornos esperados em carteiras escolhidas por mulheres são menores, quando comparados às carteiras em que homens decidem sobre a alocação. Em outras palavras: partindo do pressuposto que mulheres optam por tomar menos riscos, são esperados retornos menores para as investidoras.

A suposição, neste caso, reflete a realidade. A chefe de economia da Rico explica que, com base em um banco de dados com carteiras de investimento reais de mulheres ao redor do Brasil e um modelo matemático, ela pôde confirmar a tendência menos arrojada para as investidoras.

O resultado era o mesmo independente das variáveis aplicadas ao estudo, como idade, estado civil e salário declarado. "Para todos os diferentes testes realizados, mulheres se mostraram mais avessas ao risco do que homens", afirma Rachel.

A especialista ainda destaca que, considerando os clientes de perfil autodeclarado agressivo da corretora onde trabalha, por exemplo, ser mulher implica em uma redução da volatilidade observada, de em média, 2,23 pontos percentuais.

"Ou seja, o mero fato de ser mulher influencia mais para que uma carteira tenha menor volatilidade do que o próprio montante investido. Se isso te deixou tão estupefata(o) quanto eu, convido você, a usar esse último Dia Internacional da Igualdade da Mulher, para investir sem preconcepções", finaliza a economista. / Texto originalmente publicado pela Riconnect

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